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Aventura - Pedra do Baú

      A aventura começou com um desejo em comum entre Cibeli (Bel) e eu: subir a Pedra do Baú (altitude de 1950 metros e com paredes de aproximadamente 400), que se encontra em São Bento do Sapucaí, divisa de estados entre SP e MG. 
       Com decisão de última hora (as melhores aventuras geralmente são assim), sem conhecer a cidade de destino e nem as trilhas, combinamos de embarcar na dita aventura. Tomamos o ônibus em São José dos Campos ás 14h rumo á São Bento do Sapucaí, esperando com otimismo encontrar um táxi que nos levasse o mais próximo possível da montanha. Uma hora e meia depois já estávamos no trevo da entrada da cidade e logo que descemos do ônibus fomos abordados por um homem, que ao perceber que éramos mochileiros nos ofereceu seu serviço de táxi. Parecia o destino nos preparando tudo,
o taxista saiu melhor que a encomenda, parou em vários pontos no caminho, e nos contava as histórias de cada lugar.
    Fomos de carro até o começo da trilha, e sem ter esperado visitamos a Pedra do Bauzinho, também conhecida como 'Cara de Cão', onde tivemos uma vista maravilhosa do entorno da formação das montanhas (Bauzinho, Pedra do Baú e Ana Chata). 
   Em seguida, pegamos uma trilha seguindo ao sul da montanha e andamos aproximadamente 20 minutos (metade do previsto) até chegar na escada Sul (lado de Campos do Jordão), muitos preferem a escada norte (lado de São Bento do Sapucaí), a qual pelo que pesquisamos é mais exposta e mais perigosa.
    Começamos subir os breves degraus lapidados no chão de pedra e logo em seguida as escadas e grampos pregados no grande paredão rochoso. Sim, é muito perigoso subir sem equipamentos, tanto que muitos desistem neste ponto, pois mesmo havendo um bom condicionamento físico, podem acontecer acidentes e qualquer queda pode ser fatal, um bom exemplo aconteceu comigo: no meio da subida as duas alças da minha mochila se romperam, ficando presa apenas pelas alças no abdômen e no peito, em seguida a do abdômen não resistiu o peso e se rompeu, logo fiquei com a mochila presa ao meu corpo apenas pela alça do peito que agora estava em meu pescoço, sem poder soltar as mãos para segurar a mochila, precisei subir quase sem ar uns 10 metros até o fim  de uma das escadas, com o risco da última alça romper e cair em cima da Bel que estava logo atrás de mim na escada, mas com a proteção de Deus consegui, e com a ajuda da Bel, demos nós nas alças para não escapar novamente. O medo era constante, mas o desejo de conquistar a montanha era muito maior.

   Chegamos no pico pouco antes do pôr-do-sol e logo no topo encontramos um grupo que também de São José dos Campos e haviam subido pela 'escada norte', alguns desceram antes do pôr-do-sol e os demais permaneceram para acampar no pico, entre eles a linda Caroline Farnesi, um menina de energia doce, logo me identifiquei com a tríquetra tatuada e seu ombro e seu colar com um lindo cristal no pescoço. Armamos a barraca em um lugar protegido do vento e logo corremos para o lado oeste da montanha para ver o pôr-do-sol. A vista da paisagem era maravilhosa, 360° de puro encantamento, impossível não se emocionar no alto da montanha. O sentimento de realização e conquista fortaceleu nosso espírito, nos fazendo perceber que este é nosso destino, conquistar montanhas! 

    A noite chegou. Com o corpo dentro da barraca e a cabeça para fora olhamos para o céu e diante de nossos olhos estava o universo, por um tempo ficamos quietos, perdidos em nossos pensamentos, eram tantas estrelas em um céu sem nuvens que palavras não descreviam a sensação do momento, um espetáculo de estrelas cadentes, eram tantas que não havia desejos o suficiente para cada uma delas. Apesar do cansaço físico, não conseguimos dormir e ficamos conversando até a madrugada, ao som de I see fire e outras ótimas músicas de Ed Sheeran, que apresentei à Bel. Levantamos ás 4:30 da manhã e levamos o saco de dormir até a beira da pedra, no lado leste da montanha, e mais uma vez nos surpreendemos com a beleza da noite na montanha. Antes do amanhecer, o grupo que também estava no pico juntou-se a nós, em seguida o silêncio preencheu o ambiente, dando início a outro espetáculo: o nascer do sol da Pedra do Baú.

    Particularmente, quando despontam os primeiros raios de sol, não aquecem apenas a Terra, mas também nossos corações, e quando começamos a notar o contorno das montanhas sendo lentamente iluminadas, sentimos a força da luz vencendo a sombra, é como se fosse nossa luz interna mandando embora as energias de insatisfação pela vida.
    Momentos como estes nos tornam mais lúcidos e renovam nossas energias. Sentimos que a uma força maior nos faz aceitar o inevitável e nos ensina a confiar na Vida; ela sempre sabe o que faz.
    Junto ao sol, nasceu uma interação entre todos os montanhistas que estavam ali, e percebemos que todos partilhavam do mesmo sentimento. Apreciamos por um tempo a paisagem e o vilarejo na encosta da montanha, e então o sol já estava alto e brilhando forte, voltamos para a barraca, tomamos café da manhã e cuidamos da higiene. Já era hora de desarmar o acampamento, chegou a hora menos esperada: a despedida. Conversamos com a Caroline e seu grupo e alguns decidiram descer conosco pelo lado sul da montanha, a descida foi breve, e quanto chegamos na trilha nos separamos, bel e eu seguimos para o bauzinho e eles seguiram a trilha oeste em direção a Pedra Ana Chata para contornar a montanha e encontrar os outros do grupo que desceram pela escada Norte. Fizemos novamente a trilha, agora sentido leste, contornando a montanha em direção ao Bauzinho, mas o rítimo da caminhada foi outro, já estávamos cansados e sem pressa para ir embora, paramos muitas vezes para admirar as bromélias e descansar, levamos quase 50 minutos na volta. Logo que chegamos encontramos o taxista e fomos em direção a cidade.
    Ao chegar na cidade almoçamos em um restaurante no centro (estávamos famintos hahaha), em seguida voltamos para o trevo, cansados e sujos fisicamente, mas revigorados e limpos em espírito. Em poucos minutos tomamos o ônibus de volta para casa.

    Não preciso dizer que recomendo o passeio, mas vale lembrar que hoje não é mais possível acampar no pico, pois a área se tornou Reserva Ecológica.